22 de abr. de 2015

Educom, minha história!

História da educomunicação, contata por ela mesma à jornalista Antonia Alves

Parece que foi ontem. Mas meus 16 anos demonstram minha maturidade, apesar da adolescência. Isso mesmo. Em 1999 vim à luz da sociedade latino-americana pelas mãos de um hábil parteiro que soube me identificar nas práticas de agentes da comunicação e educação popular. Ao fazer uso de metodologias participativas, estes agentes incentivavam os atores sociais daqueles processos a produzirem cultura a partir da apropriação criativa que faziam dos recursos midiáticos e tecnológicos. Contaram-me que entre estes agentes destacaram-se um brasileiro muito querido, de nome Paulo Freire e um argentino, que circulou pelos países da América Latina, de nome Mario Kaplun. Quanto a mim, fui batizada com o nome de “Educomunicação”.


Meu parteiro - o professor Ismar de Oliveira Soares - passou a cultivar sobre mim uma paternidade responsável, sondando, acompanhando, assessorando e incentivando grupos, escolas, movimentos e profissionais que atuam em sintonia com minha essência. Assim, logo no início da minha infância, três grupos passaram a olhar para suas próprias práticas comunicativas acolhendo a minha presença em seu interior.

As escolas salesianas das Américas aprofundaram a tríade Comunicação/Educação/Cidadania em todos os seus segmentos e levaram uma conversa sobre a minha existência para suas mais de mil obras educativas nos cinco continentes. As organizações do terceiro setor ligadas à Rede CEP – Rede de Comunicação, Educação e Participação – disseminam minha metodologia de trabalho e atuam no sentido de influenciar políticas públicas baseadas nos princípios que eu defendo, em projetos governamentais dirigidos a crianças e jovens no Brasil. Enquanto isso, as escolas públicas da cidade de São Paulo utilizam esse conceito para resolver o problema da violência no espaço escolar, permitindo que seus alunos se tornem produtores de cultura pelas ondas do rádio.

À medida que eu ia crescendo, mais e mais pessoas se sentiam atraídas pelos meus encantos, com meu jeito moleque de dar vez e voz àquela criançada considerada “sem jeito”. Alguns meios de comunicação convencionais, ao admirar essa maneira rebelde de ser, abriram, em sua política de atuação, espaços de expressão para crianças e jovens, como é o caso da TV Cultura, do Canal Futura e do Programa Jornal na Escola da Associação Nacional dos Jornais (PJE-ANJ). Essa área de atuação foi denominada pelos educomunicadores por “produção midiática”.

Assim, os educomunicadores entram num patamar de pesquisa para entender o meu enigma. Nasci na efervescência das lutas populares. Na época de minha gestação nas décadas de 1970 a 1990, o discurso e a prática dos agentes e profissionais andavam juntas num movimento holístico.

Com o passar do tempo, os pesquisadores passaram a olhar se aqueles que diziam que andavam de mãos dadas comigo estavam de fato fazendo a teoria e a prática serem vistas com um novo paradigma de atuação na interface Comunicação/Educação. A essa área chamou-se de “reflexão epistemológica”. De 1998 a 2011, o banco de dados da Capes/MEC apresentou 79 dissertações e 18 teses sobre Educomunicação, demonstrando que a produção iniciada na década de 1980, tornou-se expressiva na década de 2000.

O bom de tudo isso é que os educomunicadores percebem que a liga de todo o processo é a área de “gestão da comunicação” que garante que a metodologia seja participativa, dialógica e interdiscursiva possibilitando a criatividade dos envolvidos, o que desemboca em outra área significativa: “a expressão comunicativa através das artes”. Tudo isso facilitada pela compreensão de que as tecnologias ou os recursos midiáticos só tem sentido se facilitados pela área da “mediação tecnológica” que os colocam a serviço da coletividade.

Dessa forma, ao discutir sobre o papel da mídia, seus interesses e linhas editoriais por meio de uma leitura crítica dos produtos e formatos midiáticos, os educomunicadores aprofundam a área da “educação para a comunicação”. Essa situação está muito presente no ambiente da educação formal que ganha força com a área “pedagogia da comunicação” que garante que o conceito educomunicativo dialogue intensamente com o currículo escolar.

Nossa! Por isso, sou tão madura em minha adolescência. Também trago em meu DNA uma história de três décadas de revolução, de ousadia e de muita criatividade. Desde minha identificação enquanto campo do conhecimento, minha história foi se consolidando e hoje encontro-me legitimada na sociedade brasileira.

Estou em todo lugar. Com o Programa Mais Educação vou ganhando força nas atividades de tempo integral nas escolas públicas. Já sou estudada em cursos de graduação – Licenciatura em Educomunicação (ECA-USP) e Bacharelado em Comunicação Social com ênfase em Educomunicação (UFCG-PB), em disciplinas de cursos de graduação, em programas de especialização em diversas instituições do país. Já perdi a conta do número de cursos de extensão, projetos e programas educomunicativos.

Assim, vou vivendo, pois educomunicar é preciso – certa vez disse minha amiga, Cristina Costa. Avante, porque esse processo passa por linguagens e discursos, como apontam Adilson Citelli e Roseli Fígaro. Além do mais, sou algo que ganha densidade na era digital com as práticas de educação midiática como aponta Roberto Aparici.

Então, é desse jeito que eu vou fazendo história. Afinal, o significado do meu nome carrega minha missão.

Ismar, sabia que gosto de ser “o conjunto das ações inerentes ao planejamento e avaliação dos processos, programas e produtos destinados a criar e a fortalecer ecossistemas comunicativos”?

E você gostou da minha história? Quer caminhar comigo? Tenho até uma associação, você gostaria de fazer parte?

Segure em minhas mãos, pois quero trilhar um caminho de enamoramento com você na Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom).


Crônica elaborada pela jornalista Antonia Alves a pedido da então acadêmica Juliana Corrêa para inserir em seu TCC: Revista Educomunicação; 2015; Trabalho de Conclusão de Curso; (Graduação em Jornalismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie; Orientadora: Denise Cristine Paiero.

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