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16 de mai. de 2010

Etnografia virtual, um jeito de estudar os internautas

Etnografía Virtual, livro de Christine Hine (Editorial UOC: tradução para o espanhol por Cristian P. Hormazábal, em 2004; 214 páginas; Colección Nuevas Tecnologías y Sociedad), ainda sem tradução para a língua portuguesa.


O livro agrupa seus capítulos em duas partes. A introdução apresenta a obra desde a concepção do método etnográfico, a escolha do objeto de estudo, motivando o leitor para adentrar no âmago da questão. Christine Hine é professora da Universidade de Surrey (Grã Bretanha) e uma das investigadoras mais reconhecidas no âmbito dos estudos de Internet, mas especificamente etnografia virtual.

A primeira parte composto pelos capítulos II e III (Internet como cultura y artefacto cultural; Los objetos virtuales de la etnografía”) descrevem o preâmbulo metodológico e o argumento em favor de uma perspectiva etnográfica para a abordagem do estudo da Internet como artefato cultural, em um local específico, o ciberespaço. Dessa forma, aplana o terreno para uma aproximação etnográfica diferente da vida “real”, mas bem parecida, a etnografia virtual.

É no quarto capítulo – “La producción de uma etnografia virtual” – que a autora descreve a estruturação e a condução da etnografia baseada numa série de fundamentos analíticos a partir do objeto de estudo: um estudo de caso midiático de um processo judicial que envolveu a população em torno da Internet com pessoas que o apoiavam. Trata-se do processo de Louise Woodward, uma adolescente inglesa que trabalhava como babá e que foi julgada em Boston pelo assassinato de um bebê que estava sob seus cuidados.

Dessa forma os capítulos V, VI e VII (“Tiempo, espacio y tecnologia; Autenticidad e identidad en entornos virtuales; Reflexiones”) chegam ao clímax da etnografia como tal a partir das elucidações das questões que plantearam a pesquisa.

Levantam questões em relação à capacidade da Internet em reestruturar relações sociais no tempo e no espaço; à autenticidade experimentada pelos usuários no estabelecimento de discurso que organiza a partir das declarações e percepções. No sétimo capítulo, faz-se uma revisão das implicações etnográficas para a compreensão da Internet, levando em consideração sua flexibilidade interpretativa e a atividade online como um meio que facilita a compreensão sobre esta tecnologia.

A autora critica os estudos iniciais que estiveram mais preocupação em prever um futuro revolucionário para a Internet que em investigar como ele é utilizado e de que modo se incorpora à vida cotidiana das pessoas. É nesse sentido que sua obra faz a diferença ao propor uma metodologia de investigação sobre a Internet para um estudo empírico sobre seus usos atuais. Seu objetivo “es desarrollar una perspectiva de estudio de las interacciones mediadas y mostrar a través de un ejemplo concreto los procedimientos, problemas y beneficios que implica tal perspectiva”. (HINE, 2004:22).

O argumento da obra sugere que o agente de mudanças não é a tecnologia em si mesma, mas seus usos e a construção de sentido que se faz ao redor dela. Por este motivo, a etnografia se torna uma metodologia ideal para o estudo das complexas interrelações existentes na Internet, levando o investigador a adentrar nesse universo por um período de tempo, apropriando-se das relações, atividades e significações que se forjam entre aqueles que participam dos processos sociais deste universo. Apesar de estar suficientemente próximo, mantém a distância necessária para dar conta da investigação proposta.

Dentre as perguntas a que se propõe dentro de sua revisão teórica, destacam-se:

• ¿Cómo los usuarios llegan a comprender las capacidades y posibilidades de Internet? ¿Qué implicaciones tiene su uso? ¿Qué interpretan de ella en tanto medio de comunicación y a quién perciben como audiencia?

¿De qué modo afecta Internet a la organización de las relaciones sociales en el tiempo y el espacio? ¿Es distinta esa organización a la de “la vida real”? Y si la respuesta es afirmativa, ¿cómo los usuarios reconcilian lo virtual y lo real?

¿Cuáles son las consecuencias de Internet sobre los sentidos de autenticidad y autoría? ¿Cómo se desempeñan y experimentan las identidades, y cómo se juzga la autenticidad?

¿Es “lo virtual” experimentado como algo radicalmente diferente y separado de “lo real”? ¿Hay una frontera divisoria entre la vida online y offline? (HINE, 2004:17-18).

Acredita que realizar uma investigação etnográfica através de uma comunidade virtual abre a possibilidade de enriquecer as reflexões acerca do que significa ser parte da Internet. Isso fica bem delineado no segundo capítulo quando apresenta a Internet como cultura e artefato, fazendo conversarem autores da Comunicação Mediada por Computador (CMC) às comunidades virtuais, passando pela discussão das tecnologias.

Apesar de ainda não ter tradução para a língua portuguesa, é uma obra prima que os pesquisadores de Internet não podem deixar de ler. A leitura em espanhol é leve, ao mesmo tempo, que profunda, dando a sensação de uma conversa com o leitor que é convidado a adentrar na obra e na discussão delineada numa constante revisitação de autores. Aborda, ainda, as questões éticas relacionadas à presença do etnógrafo no grupo virtual, de maneira construtiva, desafiadora e envolvente.

O livro importado pode ser lido – alguns capítulos – no Google Livros e adquirido em livrarias indicadas nesse mesmo link. Mas por ser importado demora cerca de oito semanas para chegar.






* Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo.